data-filename="retriever" style="width: 100%;">Falávamo-nos por telefone, no mínimo, a cada duas semanas. Inúmeras vezes nos encontramos pelo mundo afora, sem fronteiras. Búzios, Rio de Janeiro, São Paulo, Tiradentes, Paris. Amigos de verdade, amizade construída e reconstruída a partir de múltiplas razões.
Nosso primeiro encontro, na segunda metade dos anos sessenta, no bar do Teatro Municipal de São Paulo. Em seguida, final do concerto, ao descermos a escadaria do teatro. Daí fomos jantar em um restaurante por ali e nos tornamos amigos para sempre. Multiplamente, para sempre.
Inicialmente como advogado da empresa que Luiz Paulo dirigia, até um dia no qual ele convenceu seus pais de que seu maior sonho era abandoná-la e, então aluno de Jacques Klein, mandar-se para Viena, a estudar música! Assim foi lá vivendo durante oito anos. Na Viena dos nossos sonhos, Wien Wien, nur du allein!
Oito anos de lições de piano e pedagogia musical, além de trabalho na Embaixada do Brasil e na Rádio e TV Austríaca. De volta ao Brasil, tornou-se professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e assumiu a direção artística do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, do qual mais adiante seria presidente.
Mais fascinante do que tudo, no entanto, é o fato de ter-se doutorado em musicologia pela Universidade de Montreal, no Canadá. Eu sabia disso, mas no início de 2013, em Paris, passando pela Place de la Sorbonne, vi na vitrine da Librairie philosophique J. Vrin um livro dele, Les variations por piano, op. 27, d'Anton Webern. Tenho este livro agora, exatamente agora, cá em minhas mãos. Uma preciosidade, de verdade, com maravilhoso prefácio de Jean-Jacques Nattiez. E outras mais, entre as quais "A orquestra sinfônica e sua história" e "O guia da ópera em CD".
Vivemos momentos maravilhosos em razão e por conta da nossa Amizade. Inúmeros encontros, um deles, no Bar Brasil, no Rio de Janeiro, na Avenida Mem de Sá, na Lapa, restaurante histórico fundado por austríacos em 1907. E outros em um restaurante próximo ao apartamento no qual morava, o Bar e Restaurante Urca, no qual um garçom nos dizia, rempli de soi-même, "estamos aqui há mais de cem anos!".
Momentos inesquecíveis, entre os quais, o de uma fuga minha de Brasília, ao tempo no qual ainda integrava o STF, para, incógnito, assistir à reinauguração do Teatro Municipal, em maio de 2010, obra de meu irmão de coração Luiz Paulo.
Falávamo-nos por telefone no mínimo a cada duas semanas, mas, há meses, não consegui encontrá-lo e, apenas hoje, fiquei sabendo que faleceu há três meses, aos 83 anos, e há de estar à minha espera lá no Céu.